terça-feira, 11 de outubro de 2011

De Fio a Pavio

          (Para Chico, meu filho, que nunca me deixou desistir).


Trabalhei muito tempo sobre A Eva Futura de Villiers de L´Île-Adam. Briga boa e difícil. Várias vezes fui a nocaute. Não que traze-lo ao palco, agora, seja qualquer vitória. Será, no máximo, uma boa demonstração de teimosia. Mas quero acreditar que valeu a pena.

Ao ler, de início, o romance - sem ter a mínima idéia de quem seria aquele remoto escritor francês de nome pomposo  - vi, imediatamente aquela Eva de pé num palco. Por que? Não tenho a menor idéia. Escrevo mais para televisão e cinema do que para o palco. O teatro é um gênero que freqüento pouco e muito mais difícil para mim. Mas a Eva Futura foi um desses (raros) livros que, ao ler, vi logo de pé. Talvez por ter percebido naquele texto delirante a semente do assombroso robô de Metropolis, de Fritz Lang, desdobrado na Andróide carente de amor humano - de “Blade Runner” - outro filme marcante de minha juventude (de romantismo transbordante).

Ou talvez, simplesmente, porque o tema Realidade X Ilusão  me fascina e me inquieta. Natural. Vivemos, agora, em estado de vertigem permanente, vendo a fronteira entre uma coisa e outra se dissolver cada vez mais rápido diante de nossos olhos.

Sintoma dessa dissolução, desde sempre e hoje mais do que nunca, é a afirmação do Poder da Beleza Feminina que atravessa os séculos como valor inextinguível. Poder que me assombra, desconcerta e humilha - como a todas de minha espécie - na eterna busca da perfeição e na lamentação diária pela forma perdida. Da mais tonta à mais consciente, somos escravas, todas nós, da Eva, da Vênus, do Espelho - bombardeadas e confundidas pelas ofertas mágicas e milagrosas da indústria mundial da cosmética e do disfarce, afundadas num carnaval grotesco e sem prazo para acabar.

Levada por essa Eva Futura, por essa fantasia terrível e magnífica de Villiers de L´Isle-Adama, desci ao século XIX, freqüentei artistas, poetas e cientistas loucos, encharcados de absinto, suicidas, fazendo da própria vida um palco de paixões e sacrifícios, buscando o Ideal e a Beleza, a qualquer preço, ainda que mergulhados em miséria, doença, desespero. Todos eles tão modernos, tão iguais a nós...

Hipnotizada por ele e por sua ficção, lancei-me ao trabalho. Atrevi-me a tentar uma ponte entre essa fabulosa literatura e o teatro. Espero que as Musas tenham me ajudado a traduzir um pouco, que seja, dessa Matéria- Radiante. Nesse caso, foram tantos os artistas brilhantes que me ajudaram a arrancar a Eva das sombras que nem posso mais chamá-la de “minha”. O resultado que os senhores verão é - com todas as letras - uma criação coletiva.

Aí está ela, para todos nós. Céticos e sonhadores.

A todos, muito obrigada,

Denise Bandeira.

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