terça-feira, 11 de outubro de 2011

Para além do fio e do pavio: Villiers de L'Isle-Adam


Villiers de L´Isle-Adam é um desses personagens espetaculares dessa Paris do final do século XIX. Um nobre deserdado, miserável, alcoólatra – com um único desejo: ser Sublime. Recolhido à própria imaginação fantástica, bizarra, herdeira direta dos textos de ETA Hoffman e Edgard Allen Poe – este autor fabuloso produziu suas fantasias, sem renegar seus mestres mas criando uma ficção de digital inconfundível, que mistura crueldade, humor e horror numa sobreposição de tons única e impressionante.

Pessimista e intransigente como todos os poetas simbolistas, Villiers amava o Infinito, as torres solitárias, as câmaras místicas e a filosofia hermética. E repelia com horror a sociedade utilitária e vulgar produzida pela Revolução Industrial e pela ascenção da classe média – “ignóbil, sórdida e doméstica”. E em seu horror à vulgaridade, empenhava-se na busca de emoções transcendentes que pudessem libertá-lo daquele “triste hospital” que lhe parecia a Terra. Lugar inóspito, não havia lugar para os verdadeiros Poetas.

Atirava-se, então, à literatura com desesperado fervor. Trocando a experiência do mundo externo pelo mundo da imaginação privada. E nesse embate criou sua obra. O conflito implícito entre as leis ideais da mente oposta às contingências limitadoras de vida é o tema principal desse poeta simbolista.

Villiers acreditava que a única função da filosofia e da cultura especulativa seria a de despertar o espírito humano e instigá-lo a uma vida de constante e ardente observação. Como não? Se nos é dado, somente um número contado de palpitações cardíacas, numa vida variada, e dramática! Sim. É preciso estar alerta! Porque a cada momento, alguma forma alcança a perfeição ao nosso tato ou visão, algum tom nas montanhas ou no mar torna-se mais nítido que os demais, alguma espécie de paixão, vislumbre ou estimulo intelectual nos é irresistivelmente real e atrativa. Apenas naquele momento. O fim não é o fruto da experiência, mas a própria experiência.

E somente na criação artística é que podemos esperar encontrar compensação para a anarquia, a perversidade, a esterilidade e as frustrações do mundo.

(fontes: Edmund Wilson em “O Castelo de Axel”/ “Black Humour” André Breton)

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